Saturday, February 27, 2010

Avó .

Deixaste-nos há pouco mais de um ano e desde então nunca mais nos dirigimos uma à outra. Não trocámos palavras, olhares, beijinhos, nem boas festas como era normal fazermos nesta última época que passou.

Ambas sabemos que o lugar para onde foste é melhor que este outro mundo cá em baixo. Raramente se pronuncia o teu nome, como se tivesses feito mal a alguém, como se te quiséssemos esquecer, como se tivesses feito de propósito para que a família nunca mais te visse, para que te esquecêssemos assim que o nosso coração se fechou com o teu último olhar, com o último beijo. Nunca mais soubemos nada do teu paradeiro, sabemos sim qual a tua última paragem, a última paragem para nos deixares, para conheceres outro mundo. Não sabemos nada sobre ti, como tens estado, nem sequer uma palavra nos transmitiste. Sabes a falta que fazes naquela casa e a todos nós, sabes o quanto és e o quanto serás sempre. Sabes melhor ainda que me custou ver-te ali assim sem que me pudesses acariciar a cara como costumavas fazer sempre que ia ter contigo. Agora sempre que posso vou "ver-te" ao local onde te vi e me despedi de ti pela última vez. Os meus olhos brilham, enchem-se de lágrimas sempre que me aproximo do local, pois a saudade invade-me o coração, a saudade de te ter perto de mim. Sinto a necessidade de dar-te a mão e caminharmos juntas, deste lado do mundo, onde os sorrisos dos homens são mais tristes que as lágrimas de quem mora contigo. Sei que estarás sempre comigo, mas ainda assim a tua ausência faz falta. Aqueles lanches em tua casa com a família toda junta, o teu café que todos esperavam que chegasse à mesa (menos eu, pois não gosto de café), mas para mim fazias leite quente com chocolate, nada disso foi igual. Mas infelizmente não foi apenas isto que mudou.

Não tem havido grande oportunidade para que possamos estar a falar apenas uma com a outra sem sermos interrompidas, sem que outros pensamentos invadam a minha mente, sem que a tua imagem percorra o meu corpo enquanto me concentro nas tuas palavras, nos teus conselhos. Há coisas que Deus faz que para nós parecem quem não fazem sentido, mas por mais que nos custe a todos aceitar a tua partida, por mais que nos doa ver-te ser arrastada pela última paragem da vida, temos de aceitar isso, temos de ver que apesar de nos fazeres falta, foi o melhor para ti, para o avô, para nós. Estavas a sofrer e nós ao vermos-te assim não nos dava apoio, não nos animava, não nos dava força para continuar a lutar, para continuar a combater essa tua doença que te consumia aos poucos, consumia-te a alma e a nós devorava-nos o coração.

Avó sei que esta carta não vai chegar a ti pelos motivos que sabemos, mas no entanto escrevo-ta para que possas entender o quanto fazes falta. O quanto o teu cheiro, a tua respiração, o teu sorriso, o teu olhar, a tua presença, a tua alegria, o teu espírito, a tua atitude perante a doença, tudo isso faz e continuará a fazer falta, até ao dia em que te voltar a abraçar.

Da tua neta (...). Para sempre eterna Avó !