Friday, October 29, 2010

As C'legas


Adoro-as. As boas c'legas à portuguesa (sim, porque o "o" não se pronuncia), aquelas que vão aos pares beber a bica às dez em ponto, de porta-moedas enfiado debaixo do braço, depois de terem pegado às oito e tal e de se terem cansado a cumprimentar as outras durante uma hora e picos.

Adoro quando se referem aos filhos - melhor ainda, aos filhotes - ("ai, tiveste um casalinho, já ficaste despachada!") como "o menino" e "a menina" ("o menino comeu a papinha toda?"), como são todas 'migas umas das outras e a forma como polvilham os e-mails com smileys animados e jokinhas grandes, gordas e fofas. E a "ingenuidade" com que acreditam que, se mandarem aquela mensagem a mais quinze c'legas, algo de fantástico acontecerá.

Adoro a displicência mais ou menos consciente com que se agarram aos seus empregos para toda a vida ("ai, filha, que já estou no quadro, daqui não saio!"), o facto de terem como momento alto do dia as novelas da TVI e a alegria com que se passeiam, ao fim-de-semana, no centro comercial lá do sítio, mais o marido, os meninos, a sogra e o periquito.

Adoro-as porque, de certa forma, gostava de ser como elas. De ser feliz assim. Mas (infelizmente) não consigo. Mesmo.