Monday, May 23, 2011

For Those of You Thinking Inside the Box


Quando acabei a faculdade trabalhava como tarefeira numa empresa ligada ao sector bancário. Como os dois últimos anos do meu curso eram feitos, obrigatoriamente, em horário pós-laboral, foi a maneira que encontrei de fazer alguma coisa útil e ganhar uns trocos pelo meio.

Mal acabei o curso perguntaram-me se queria ficar a trabalhar lá. E  eu, meia apanhada de surpresa, lá balbuciei displicentemente que sim, enquanto pensava "fico por aqui até encontrar outra coisa que tenha mais a ver comigo".

Mas a verdade é que o tempo foi passando. E eu fui ficando. Até que, de um momento para o outro, se tinham passado cinco anos. E eu percebi que estava acomodada a uma estrutura sólida, é certo, mas profundamente chata e cinzenta.

Comecei (aí sim) à procura de emprego. Candidatei-me a tudo e mais alguma coisa, respondi a anúncios atrás de anúncios, tudo. Até que lá apareceu o emprego giro e bem pago que tanto queria - no estrangeiro, ainda por cima. Anunciei que me ia embora e... foi como se o mundo tivesse acabado.

As pessoas olhavam para mim de olhos esbugalhados e interrogavam-se sobre o que me teria levado a deixar um emprego seguro daqueles. "Mas tu já estás no quadro e tudo!", disseram-me vezes sem conta. Mas eu estava mais que decidida e lá entreguei a minha carta de demissão, mesmo depois de o meu chefe ter ameaçado que diria mal de mim  a todas as pessoas que se cruzassem no meu caminho até ser obrigada a voltar para ele (sendo que depois lá caiu em si e se despediu de mim entre lágrimas e abraços).

Importa dizer que esta história não teve propriamente um final feliz. Não naquela altura. Seis meses mais tarde estava desempregada. Tinha-me juntado a uma das muitas empresas de internet que fecharam de um momento para o outro. Mas a verdade é que tudo acabou por se compor, como aliás acontece (quase) sempre.

Vem isto a propósito de ter ido parar, acidentalmente, ao site da tal empresa onde trabalhei. E de ter verificado que, quase 12 anos mais tarde, tudo continua na mesma: exactamente as mesmas pessoas a fazerem exactamente as mesmas coisas. E de ter ficado pasmada a olhar para aquilo. E de ter ficado muito orgulhosa por ter saído. Porque (neste aspecto, pelo menos) nunca terei de olhar para trás e interrogar-me sobre como seria a minha vida se tivesse tido a coragem de cortar as amarras que ali me prendiam e saltado para o abismo. O qual (só) é tão assustador quanto o nosso medo do desconhecido.