À semelhança de todos aqueles que nasceram nos anos 70 e que cantaram e dançaram ao som de Thriller e de Billy Jean, é óbvio que fiquei em estado de choque com a notícia da morte de Michael Jackson - e com uma vaga sensação de vazio pela perda daquele que, independentemente das opiniões (no meu caso, nunca fui grande fã), foi um ícone da música pop à escala mundial.
Ontem à noite a SIC transmitiu um documentário sobre esta estanha pessoa(rsonagem), no qual ficou claro, mais do que o talento (indiscutível) que sempre demonstrou, o enorme desequilíbrio de que sofria - e algumas das causas que lhe poderão ter estado subjacentes.
Dos 50 anos de idade com que morreu, 45 foram de carreira, facto que já diz muito sobre a sua vida. Filho de um pai interesseiro e cruel, que batia nos filhos com tudo o que tinha à mão (desde cintos a fios eléctricos) à mínima falha nos ensaios dos Jackson Five - e que gozava implacavelmente com a aparência de Michael, sobretudo devido ao seu (grande) nariz e à acne que o afectou na adolescência - era quase um milagre ter-se tornado um adulto normal. Sendo que o milagre nunca aconteceu.
Vivia numa espécie de redoma mas tinha um estranho prazer em ser apanhado fora dela; exibia uma cara completamente transfigurada mas jurava a pés juntos que só tinha duas feito duas plásticas ao nariz (por motivos respiratórios), sendo tudo o resto fruto da evolução natural; dizia que adorava crianças mas a verdade é que só escapou a uma condenação por assédio sexual porque chegou a um acordo financeiro com a família da criança em causa; dizia que vivia para os filhos mas não só soube privá-las das respectivas Mães, como as fechou no seu estranho mundo, onde (também) elas nunca poderiam(ão) ser normais.
Resta o facto de, pelo menos, ter morrido de forma coerente, a fazer mais uma plástica: neste caso, a esticar o pernil.
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