Em Outubro de 2000 (ou seja, há precisamente dez anos) estava desempregada. Tinha deixado um emprego de há anos para arriscar uma vida nova - outro País, uma área diferente -, mas não deu certo. Fui apanhada no crash das empresas de internet e, pela primeira vez na vida, vi-me sem nada para fazer.
Andei dois meses algo perdida, sem saber muito bem que rumo tomar, até que vi um anúncio que me chamou a atenção. Era para a minha área, mas não tinha bem a ver com o que tinha feito até então. E ainda por cima tinha "sénior" no fim do cargo, o que implicava uma experiência que não tinha. No entanto, decidi arriscar. Enviei o meu CV ("só perco o dinheiro do selo", pensei), fui chamada para uma série de testes e, mesmo com 40 graus de febre, lá fiz tudo até ao fim. Ainda estive para desistir a meio, cheguei a levantar-me e tudo, mas algo me disse para não desistir. Hoje, sei que tinha de ser.
Poucos dias depois fui chamada para uma entrevista. Uma entrevista de três horas em que se falou um pouco de tudo: do livro do Harry Potter que levava na carteira, do pontapé que o Marco do Big Brother tinha dado no dia anterior, de televisão, de cinema... e de trabalho, é claro.
No dia seguinte, recebi um telefonema em que me disseram "não podíamos ter gostado mais de si, quer vir trabalhar para cá?". Sendo o "cá" a empresa onde trabalho desde então, onde ganhei (e perdi) algumas amigas, onde conheci o meu marido e de onde nasceram, de certa forma, os meus filhos.
Hoje, a voz que estava do outro lado do telefone, que acreditou em mim desde o início, já não estava lá. Para ela, o "cá" transformou-se em "lá". E para mim, de certa forma, também.
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