A rapariga estava cansada.
Os olhos começavam a fechar-se. As letras do computador estavam a ficar desfocadas devido à incapacidade de visão que a preenchia na altura. A música que tocava começa a soar mal e já só conseguia captar algumas partes de cada melodia. Nada na sua memória se conseguia organizar, nem uma simples solução lógica de arrumar o computador e deitar-se na cama debaixo dos lençóis como tanto desejara. A sua mente não era capaz de formular nenhuma solução que a tirasse daquela angústia, daquele sofrimento interior. Este conseguia parar cada batimento cardíaco, tornando-o mais fraco. Os seus músculos já não contraíam a cada movimentar do corpo, consequentemente as suas mãos já não se dobravam nem sequer conseguiam agarrar fosse o que fosse. Estava fraca, frágil. Estava a ficar pálida e os seus rudimentares orgãos já não reagiam a qualquer esforço imposto pela mesma.
A respiração, essa já nem conseguia aquecer o ar gélido em que o quarto se encontrava. Eram raras as vezes que a rapariga inspirava e eram ainda menos as vezes que esta expirava. O seu organismo estava a consumir todo o oxigénio que ela conseguia captar e o dióxido de carbono não era libertado. Gerava-se uma enorme mistura de gases em seus pulmões e as veias começavam a ficar dilatadas. O sangue não corria o seu percurso normal, permanecera imóvel nas veias impedindo uma eficaz regulação da temperatura corporal. Os seus lábios começavam a secar e as suas glândulas salivares deixavam de produzir saliva.
O batimento cardíaco era escasso e ainda para mais, a cada bombear do coração a claridade da sua (fraca) visão tornava-se mais obscura. A inútil e devastadora invasão que preenchia o seu corpo impedia-a de se aguentar e de manter as forças para o que quer que fosse.
Não se tratava de fraqueza interior. Tratava-se sim, da destruição latente da alma!