Sunday, May 9, 2010

Atende .

Era de tarde. Chuvia torrencialmente numa época do ano em que chuva já não fazia falta. Não tinha a mínima vontade de se levantar apesar de os seus pais já se estarem a chatear com ela devido à preguiça demonstrada.
Nada a motivava fora dos quentes lençóis da sua cama. O chão do seu quarto estava frio. Os estóros estavam fechados e a luz apagada. Olhava pela porta do seu quarto mas a claridade era pouca ou nenhuma devido ao mau tempo que se fazia sentir. O telemóvel dava sinal de mensagem, a televisão desligada, e o rádio só dava música calma, o que ainda a motivava mais a não sair daquele quentinho.
A sua mãe voltara ao seu quarto e acendera o candeeiro, mas ela nem se limitava a pronunciar uma palavra. Estava sem forças.
A garganta estava seca, as costas transpiradas, o seu coração batia lentamente e essa batida fazia sentir-se por toda a cama. Na sua mente formava-se uma bela e engenhosa sequência de momentos que tivera tido, uma sucessiva sequência de imagens que a transpunham para fora de si, deixando-a cada vez com mais vontade de estar com ele e com menos vontade de sair da cama. Era imprecionante como umas meras imagens conseguiam-na pôr completamente fora de si. Isto deixava-a cada vez mais mal humorada e cada vez com mais vontade de gritar e não se levantar de forma alguma daquele local solitário.
Lá decidiu pegar no telemóvel. Mas o que encontrou não foi o tão desejado. Ele não se limitava a dizer nada, nem um simples olá. Como era possível tanta indiferença da sua parte, se pessoalmente ele dava tudo dele?
Já não dava mais continuar assim, sem forças, sem vontade e com demasiado interesse. Então pegou no telemóvel e ligou-lhe. Deixou tocar, tocar até que este atendeu. Seu coração palpitou aceleradamente. Esta não o queria ouvir, apenas queria transmitir-lhe o que a fazia sentir-se assim, então apenas lhe disse «Não digas nada, preciso que oiças. Desta vez preciso do teu silêncio» e foi então que disse tudo o que lhe passara na mente, tudo o que se estava a passar na escuridão daquele quarto, tudo o que se passava no vazio do seu coração. E por fim, disse-lhe o quanto ele valia, o quanto ele significava, e para seu próprio espanto este retribuiu « Acontece-me exactamente a mesma coisa, não tenho vontade para nada apenas de estar contigo. Amo-te» e desligou.
Aquele seu jeito de ser deixava-a, de certa forma, indignada.